terça-feira, julho 14, 2009

À conversa com Octávio Melo.


Octávio, saíste de Santa Maria há um bom par de anos. Antes de fixares residência na Ilha do Faial e integrares um clube de atletismo, estiveste ligado a alguma entidade desportiva?
Sim já saí de Santa Maria vai fazer, em Setembro, 11 anos. O tempo passa rápido.)
Antes de cá chegar apenas participei em algumas provas internas (nível militar) mas fora isso também integrava algumas provas onde amigos meus participavam na condição de federados. Assim fui aumentando o gosto pela modalidade.
Recordo-me de quando participavas ocasionalmente em algumas provas de atletismo em Santa Maria. Estas participações eram a nível individual pois a modalidade nunca atingiu um patamar onde fosse possível aos clubes apostarem forte. Concordas?
Recordo-me como se fosse hoje. Tinha, julgo, 7 anos quando participei nas corridas da amizade do Clube Asas do Atlântico. Ainda tenho esta foto.
Depois fui participando em algumas provas ao longo dos anos, Lembro-me que mais tarde, através da Professora Livramento Pamplona, houve uma tentativa de organizar a modalidade na ilha. Chegamos mesmo a formar equipas em algumas provas. Nesta altura também o Grupo Desportivo de São Pedro tinha atletas de grande qualidade.
Como surge a tua ligação ao Clube Independente Atletismo Ilha Azul? Foste contactado por alguém ligado ao clube ou procuraste as pessoas responsáveis e demonstraste interesse em trabalhar em prol do atletismo
Bem essa ligação teve início no que cá cheguei (2002). Sabia que aqui praticavam atletismo, que estavam bem organizados e com objectivos definidos. No início da época 2002/2003, a pedido de um colega meu que ainda é o presidente do Ilha Azul e treinador do clube comigo, endereçou-se o convite para participar na milha do aniversário do clube. Recordo-me que até fiz uma boa prova na estreia tendo sido 3º classificado na geral e 2º no meu escalão.
Desde então já lá vão 7 anos de ligação a este clube.
Neste momento para além de estares federado como atleta, tens também a carteira de treinador e já com provas dadas. É tua pretensão continuar a apostar na tua formação técnica ou ficas por aqui?
Pois, neste momento como atleta e devido as lesões que me tem atormentado, tive que interromper a actividade nos últimos dois anos assumindo assim por inteiro a vertente de treinador. Aliás conciliar as duas coisas a partir de um determinado nível torna-se extremamente complicado.
Já completei dois cursos de treinador. A partir daqui só especialização. Algo que num futuro, gostaria de fazer pois adoro a vertente de “meio-fundo” e “fundo”. Estas sempre foram as minhas disciplinas favoritas. Sabes, é que o atletismo, ao contrário do que muita gente julga, não só corrida. Também se salta e lança.
O bichinho de competir permanece cá dentro e caso pretenda voltar à condição de atleta posso faze-lo. Pois o escalão principal vai até aos 35 anos ou seja, teria mais duas ou três épocas pela frente.
Mas é claro que para voltar teria que estar em condições, física e psicologicamente porque para se atingir bons resultados e necessário muito trabalho e força de vontade.
Para já pretendo exercer “apenas” as funções de Treinador, Juiz e Dirigente da Associação Desportos da ilha do Faial (ADIF).
Na ilha do Faial quantos clubes de atletismo existem? Todos eles apostam forte na formação ou tem por hábito “pescar” os melhores atletas aos seus rivais?
Neste momento existem dois clubes. Já existiram três. Temos o Castelo Branco Sport Clube que está mais vocacionado para a formação onde também tem conseguido bons resultados com alguns atletas a nível regional e nós (CIAIA) que além dessa vertente temos no escalão principal uma equipa muito competitiva com bons valores tanto a nível regional como nacional.
Aqui que me recorde não existe muito o hábito de “pescar” os melhores atletas dos outros. Há uma tradição no CIAIA. As pessoas já conhecem o clube, temos atletas de todos os pontos da ilha. Isto no que respeita à formação claro.
Temos atletas que já pertenceram a clubes rivais a nível regional mas no escalão principal. Aí é uma situação completamente distinta em que os objectivos do Clube se sobrepõem.
Desde que estás no CIAIA, consegues fazer-nos um apanhado dos títulos conquistados a nível regional e nacional?
Bem já foram alguns. A nível pessoal consegui três títulos consecutivos de corta mato e dois de estrada. Colectivamente, desde que cá cheguei, sempre fomos campeões regionais no escalão principal de 2003 a 2008, ou seja 6 titulos consecutivos.
Caso consigamos vencer este mês o regional na ilha Terceira o que acredito plenamente, será o meu sétimo consecutivo ligado ao clube e o oitavo do CIAIA. O primeiro título foi conquistado no verão de 2002.
Na formação que me recorde já vencemos por duas ou três ocasiões no escalão de juvenis. Incluindo esta época que fomos campeões regionais.
Durante estes últimos anos, também foram muitos os títulos individuais ganhos pelos atletas dos escalões jovens e que foram treinados por nós, equipas técnicas.
A nível nacional foram dois os títulos consecutivos que tivemos na final da III divisão nacional o que corresponde ao 17º lugar nacional entre todos os clubes do nosso país. Já participamos na II divisão durante duas épocas o que atendendo a nossa dimensão, insularidade, já é extremamente positivo.
Tenho tsmbém na memória a minha última participação no nacional de corta-mato em que obtivemos a melhor classificação do clube numa final nacional com todas as grandes equipas da especialidade. Foi em Santa Maria da Feira em 2005 e onde conseguimos um honroso 14º lugar.
Mas apesar de todos estes triunfos conquistados a nível pessoal, a prova que mais me marcou foi a que realizei em 2003 quando percorri 56km para ajudar instituições de solidariedade. Julgo ser ainda a segunda maior distância percorrida em Portugal numa só etapa e a maior jamais feita nos Açores.
Eu, tendo sido um dos dois atletas que aderi à causa, vou ficar com este registo para sempre na memória pois foi necessário muito treino e sacrifício.
Relativamente à tua modalidade, certamente é com alguma mágoa que não vês representação mariense nas provas federadas Achas que a situação poderia conhecer novos contornos, por exemplo, com o teu regresso a Santa Maria e posterior ingresso num dos clubes locais? Afinal tens formação como treinador e este seria um problema a menos para o clube que quisesse apostar no atletismo não é?
Claro que gostaria de ver uma equipe mariense a praticar atletismo ou outros marienses a praticar a modalidade e que tivesse todo o sucesso, só ficaria feliz se tal acontecesse.
Recordo-me de quando ajuizei aqui no Faial a final do corta mato escolar regional e vi os atletas marienses fiquei sensibilizado pois estavam em representação da minha terra. Inclusive até falei com os atletas marienses que lá estavam incentivando-os a continuar a praticar mesmo que apenas a nivel escolar.
Quando a um regresso..........Sinceramente, acredita que já pensei nisso. Depois da construção do complexo desportivo e da respectiva pista de atletismo, embora ainda não com o piso de tartan como desejado, foi algo que me passou pela cabeça. Se isso um dia acontecer e caso algum clube demonstre interesse num projecto a longo prazo de modo a criar alicerces na modalidade, eu aceitaria e abraçaria a ideia com todo o gosto.
Até porque os marienses como já tem provado nas mais variadas modalidades, tem qualidade e determinação, nasceram para vencer e sendo bem orientados os resultados não teriam muita demora em surgir.
Seria também mais um canal de formação para a juventude da nossa terra pois nem todos podem vencer mas todos podem praticar e o atletismo é uma modalidade que apesar de ser um pouco solitária traz bons valores, determinação, espírito de sacrficio, respeito pelo adversário como talvez não existe em outras modalidades.
Octávio, apesar de ser um cenário difícil de acontecer mas uma vez que a tua profissão assim o permite, tenho que questionar-te relativamente a um eventual regresso a Santa Maria. Era algo que te agradava ou estás de corpo e alma no Faial?
Não sabemos o dia de amanhã mas nunca excluí a hipótese de voltar a Santa Maria
Apesar de já ter criado raízes aqui no Faial, já estar integrado na sociedade e bem colocado a nível profissional (Marina da Horta), a saudade da terra fica sempre dentro de nos e passados 11 anos não desapareceu nem desaparecerá.
Nos próximos tempos poderão haver mudanças a vários níveis e quem sabe se num futuro mais próximo não regressarei a casa.
Digamos que deixo a porta aberta caso se reúnam determinadas condições para que um dia volte a Santa Maria .

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